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O número de domicÃlios com moradores passando fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas) para 15,5% (33,1 milhões de pessoas).
No fim de 2020, 19,1 milhões de brasileiros/as conviviam com a fome.
Em 2022, são 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer.
Ao olhar para a fome, é importante lembrar que cada número absoluto representa a vida de uma pessoa. E que mudanças em percentuais de insegurança alimentar, ainda que pareçam pequenas, significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome. Insegurança alimentar é a condição de não ter acesso pleno e permanente a alimentos. A fome representa sua forma mais grave.
Olhamos para a fome quando os dados (alarmantes) do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (I VIGISAN) foram publicados em 2021. Naquele contexto, vimos que a fome havia retornado aos patamares de 2004.
Em 2022, a nova edição da pesquisa, desenvolvida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), como parte do projeto VIGISAN, mostra que a insegurança alimentar se tornou ainda mais presente entre as famÃlias brasileiras.
O número de domicÃlios com moradores passando fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas) para 15,5% (33,1 milhões de pessoas). São 14 milhões de novos brasileiros/as em situação de fome em pouco mais de um ano. A continuidade do desmonte de polÃticas públicas, a piora na crise econômica, o aumento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 mantiveram mais da metade (58,7%) da população brasileira em insegurança alimentar, nos mais variados nÃveis de gravidade.
O Brasil já foi referência internacional no combate à fome. Entre 2004 e 2013, polÃticas públicas de erradicação da pobreza e da miséria reduziram a fome para menos da metade do Ãndice inicial: de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros. Hoje, infelizmente, o paÃs é outro. Se a pesquisa anterior mostrava que, no final de 2020, a fome havia retornado aos patamares de 2004, em 2022 a realidade é ainda pior. De 9% dos domicÃlios com moradores passando fome, saltamos para 15,5% — 33,1 milhões de brasileiros/as. Isso quer dizer que, de um perÃodo para o outro, 14 milhões de pessoas passaram a conviver com a fome no dia a dia. Desde a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2018 (POF-IBGE), muitas famÃlias migraram dos nÃveis de menor gravidade de insegurança alimentar para os de maior gravidade. É uma trajetória que mostra que o direito humano à alimentação adequada vem sendo sistematicamente violado, provocando uma tragédia no presente e impactando o futuro da população brasileira. Em 2021/2022 (II VIGISAN), 125,2 milhões de brasileiros/as não tinham certeza se teriam o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias — um aumento de 7,2% em relação a 2020. Se compararmos com dados de 2018 (última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19), quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares brasileiros, o aumento chega a 60%.
Em média, considerando todas as regiões, 3 em cada 10 famÃlias relataram incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e preocupação em relação à qualidade da alimentação no futuro imediato. 4 em cada 10 famÃlias das regiões Norte e Nordeste, 3 em cada 10 das regiões Centro-Oeste e Sudeste, e 2 em cada 10 da região Sul relataram redução parcial ou severa no consumo de alimentos nos três meses que antecederam as entrevistas do II VIGISAN. As formas mais severas de insegurança alimentar (moderada ou grave) atingem fatias maiores da população nas regiões norte (45,2%) e nordeste (38,4%).
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O aumento da fome na população negra é de 70%
Mesmo quando os rendimentos mensais ficam acima de um salário mÃnimo por pessoa, a insegurança alimentar é maior nos domicÃlios onde a pessoa de referência se autodeclara preta ou parda. Enquanto a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicÃlios onde a pessoa de referência se autodeclara branca, nos lares com responsáveis de raça/cor preta ou parda ela cai para 35%. Em outras palavras, 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com restrição de alimentos. Nas residências comandadas por pessoas de cor/raça preta ou parda, a segurança alimentar teve uma redução expressiva entre 2020 e 2022, passando de 41,5% para 35%. O contrário aconteceu com a fome, que saltou de 10,4% para 18,1%.
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As mulheres são as mais impactadas pela fome — e cada vez mais
6 de cada 10 lares comandados por mulheres convivem com a insegurança alimentar. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. Isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros
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Acesse o II Inquérito de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (II VIGISAN) e mobilize-se contra a escalada da fome. Clique aqui
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Matéria especial reproduzida com indicadores sociais e texto do site Olhe para a Fome